História da Pastoral dos Surdos de Recife


Resumo da História da Pastoral dos Surdos de Recife
(Do início até dezembro de 2001)

Autora: Maria Olindina C. P. Amorim
Auxiliar: Carlos Manoel P.C Amorim
Tudo começou com a chegada de Ir. Virgínia Barry ao Brasil, em 1977. Foi ela quem criou a Pastoral dos Surdos de Recife e nos deu todo incentivo para continuarmos. Ela é norte-americana e durante esses 23 anos em Recife não nos abandonou um só instante e até hoje temos sua incalculável ajuda.
A Pastoral dos Surdos de Recife foi criada em 1992. Sua missão é levar o envangelho ao surdo. Todas as quartas-feiras à noite, a comunidade se reúne para estudar e rezar.
No início de 1992 não havia a pastoral em si. Havia missas comemorativas e certos encontros para evangelização dos surdos. No entanto foi no II ENFOCAS (2º Encontro Nacional de Formação do Catequista Surdo); em Brasília, em que Vírginia, Patrícia, João e Jadson participaram; que o pontapé inicial para a formação da Pastoral dos Surdos de Recife foi dado. No ano da criação desta pastoral, que inicial foi chamada de Comunidade dos Surdos de Recife em União com Jesus, escolhemos a sede da ACO (Ação Católica Operária) como nosso ponto de encontro, do qual alugamos uma sala para todas quartas-feiras.
Explicávamos o evangelho do Domingo seguinte e procurávamos viver as datas mais importantes da Igreja. Ex: Dia de cinzas (4ª feiras, depois do carnaval), Semana Santa, mês de Maio (mês de Nossa Senhora), Advento, Natal etc. Desde o início passamos por várias dificuldades, desde as de encontrarmos um local ideal para nos reunirmos até uma Igreja onde possamos organizar uma liturgia voltada para a cultura do próprio surdo. Também tivemos outra grande colaboradora, Sueli Cristina dos Santos, que ajudou muito a Ir. Virginia como intérprete em 1994. Durante esse ano, a nossa Representante Regional (Cargo que era chamado de Representação e hoje é chamado de Coordenação) era Patrícia Cardoso dos Santos e a Representante Estadual era Leane Pereira Cordeiro.
Em 1996, a partir do dia em que foi para o XIII ENAPAS (8º Encontro Nacional da Pastoral dos Surdos) aqui em Recife, começou a atuar na pastoral o meu filho Carlos Manoel P. C. de Amorim, que até hoje é um dos mais experientes intérpretes da nossa comunidade.
Tivemos aula de catequese para adultos no SUVAG, aos sábados. Preparação para 1ª Eucaristia, estas aulas eram dadas por mim, com a ajudar de César Augusto. Curso de noivos, preparação para o batismo e 1ª Comunhão a cargo de Ir. Virgínia.
Tivemos também um Grupo de Aconselhamento para Mulheres uma vez por mês (aos domingos) e missa para surdos também mensalmente, nas 6ª ferias. Em seguida começou a missa semanal (aos domingos), na Igreja Espinheiro, com os intérpretes Reginaldo Souza da Silva e Carlos Manoel (1998-1999) a partir de um grupo de jovens ouvintes em que os surdos se engajaram e começaram a participar. Os primeiros surdos que se interessaram a participar do grupo foram Bernardo Luiz Klimsa e Fabiano Souto. Foi aí que Carlos Manoel e Reginaldo, intérprete cearaense, começaram a interpretar para o grupo e as missas. Foi muito valido este entrossamento entre surdos e ouvintes, com a orientação destes intérpretes. Reginaldo pertecente a pastoral dos surdos de Fortaleza, veio fazer um curso de um ano aqui em Recife e durante esse período atuou assiduamente na nossa organização religiosa.
Em 1998, nos mudamos para a Igreja da Matriz de Boa Vista, a sala era grande, havia mais espaço, e era de graça. Essa colaboração foi fundamental para nós que começamos a crescer cada vez mais. Nesse mesmo ano fui eleita a nova Coordenadora Estadual e Bernardo Luís foi escolhido como Coordenador Regional.
Neste ano conhecemos Sabrina Guimarães V. de Vasconcelhos, cantora do grupo musical da paróquia, na Igreja Espinheiro, outra pessoa muito interessada que, a partir do momento em que os surdos começaram a participar das organizações da paróquia, começou a aprender a língua de sinais e que hoje é uma dedicada intérprete da pastoral surda.
Durante vários meses nos reunimos na Matriz da Boa Vista e, durante esse período a Pastoral dos Surdos de Recife ascendia cada vez mais. Novos membros se engajavam e vários ouvintes que moravam nas proximidades da paróquia começavam a se interessar pela língua de sinais e pela causa do surdo.
O padre João, nos apresentava durante as missas espalhando, assim, pela igreja, a cultura surda e a visão ampla de que cada surdo ou ouvinte é a religião e faz parte dela como um todo.
No entanto, com a chegada de um padre francês, cujo nome não me vem à memória, não cooperou com os surdos, incompreensível perante a comunidade, nos expulsou da igreja pelo fato de ultilizarmos a Língua de Sinais. Este padre novo pároco tinha intenção de fechar a igreja ao acesso da sociedade. Portanto, podemos ver que esta atituide não é lúcida a uma religião que preza pela caridade e pela visão social como prioridade.
Voltamos então para a ACO e continuamos nossos trabalhos como sempre faziamos.
A partir de 1998, têm as reuniões da Coordenação da Pastoral dos Surdos de Recife de 3 em 3 meses. Os membros da Coordenação assinam a folha de ATA como presença na reunião. Nesta reunião, a secretária anota todos os relatos dos assuntos importantes, porque é bom lembrar o que teve na reunião e procurar no caderno de ATA, é como se fosse comprovante.
Em 1999 apresenta-se como novo membro Rafaela Ferreira do Rego Barros, namorada de Carlos Manoel, atualmente uma boa intérprete da pastoral. Neste mesmo ano, o Bispo Dom José Cardoso ofereceu aos surdos uma sala na Cúria Metropolitana de Olinda e Recife, (Arquidiocese Olindense e Recifense). Ficamos felizes com a nova sala da Pastoral dos Surdos de Recife, esperávamos que melhorasse muito, mas tivemos grande decepção, muitos surdos deixaram de participar. Compreendemos que era por causa da locomoção e do horário. Durante esse período Betiza, instrutora de Libras, ensinava a língua para Mª Janaína Sampaio que a partir disso começa a atuar como intérprete.
Neste mesmo ano conseguimos uma igreja em que as missas poderiam ser interpretadas para os surdos. Deixamos a Igreja do Espinheiro, onde poucos surdos participavam da missa, e começamos a frequentar a Igreja de São Francisco, no centro da cidade. Os intérpretes eram Carlos Manoel e Rafaela. Infelizmente não duramos muito tempo lá, pois os surdos por algum motivo (talvez a localização) pouco frequentaram e, depois de alguns meses, deixamos a paróquia.
Em 2000 fui reeleita Coordenadora Estadual cujo “mandato” vai até 2002. Escolhi como vice meu filho, Carlos Manoel.
No X ENAPAS (10º Encontro Nacional da Pastoral dos Surdos), em Fortaleza, Bernardo Luís foi eleito Coordenador Nacional. O anterior era César Bacchim (ouvinte, do Rio de Janeiro), atualmente é vice.
No fim do ano 2000 começam a participar da pastoral com muita vontade e determinação o seminarista Sandoval, que aprendeu Libras com Leane (instrutora) e Marcos Gonçalves da Silva, que morou na Bahia e lá aprendeu a Língua de Sinais. No entanto, Sandoval pouco pode participar da nossa pastoral, pois teve que ir a São Paulo algum tempo depois, para terminar seus estudos teológicos.
A nossa pastoral muitas vezes enfrenta dificuldades, às vezes fraqueja, fica quase vazia, com poucos surdos, às vezes parece invecível e cheia de fortes membros. Mas, encaremos a realidade, no ano 2000 houve muito mais derrotas do que vitórias. Ficamos meio que parados, perplexos, sem saber o que fazer. Este ano não pode ser assim.
Mas não perdemos a esperança, não podemos ficar de braços cruzados, continuamos a lutar para ver o que podemos fazer para resolver esta situação. Fizemos o possível para encontrar a solução, temos esperança e Fé em Deus. E graças a Ele, em março de 2001, conseguimos uma igreja para assistirmos as missas todos os domingos, às 18h, com intérprete e, além disso, o pároco da igreja, Frei Marconi, foi muito bondoso e nos deu uma sala para realizarmos nossas atividades também aos domingos antes da missa, com isso o número de participantes aumentou muito. A igreja é Matriz de São Sebastião que fica na Av. Norte, em Santo Amaro. A partir daí, apareceram novos intérpretes que eram da própria igreja: Jurandir, Bianca, Dayse, José Carlos, Roberta… que aprederam um pouco da Libras lá mesmo com os surdos da pastoral.
No dia 26 de agosto de 2001 ocorreu o Domingão do Surdo, cujo tema foi: O surdo caminhando na igreja do Cristo de Pobre. Alem de ser um encontro espiritual, foi um encontro social, político e humano. Os grupos de discussão abordaram temas como a desigualdade social, as drogas, o baixo salário, etc. Os problemas sociais devem ser discutidos pela igreja, porque fazem parte da vida e a melhoria da vida como um todo é missão da igreja. Além disso, foi um dia muito animado.
Em novembro realizamos o I Encontro Pernambucano da Pastoral dos Surdos cujo tema foi: Ser igreja no novo milênio e o lema: Surdos numa comunidade que acolhe e serve. Foi um grande impulso para a pastoral dos surdos no estado e também um sonho que tínhamos há anos. Acolhemos aqui em Recife surdos dos municípios de Olinda, Cabo de Santo Agostinho, Petrolina, Ouricuri, Barreiros, Rio Formoso, Nazaré da Mata e Timbaúba. Além de 2 convidados especiais de Natal-RN: Francisco José (CL de Natal e Catequista cujo qual deu uma palestra) e Éliton Costa (intéprete).
Por tudo isso agradecemos ao Senhor Deus, agradecemos as orações dos membros da pastoral. Como Jesus Cristo nunca nos abandona, está sempre concosco e em nós, emergindo de dentro para for a, daquilo que nós somos nas profundezas do SER, esperamos que Ele nos ilumine e dê uma resposta de como devemos fazer para conseguirmos, cada vez mais, o melhor pela Pastoral dos Surdos.

Um comentário:

  1. Olá! Sou estudante de Fisioterapia da UFPE e uma das disciplinas eletivas do curso é a de LIBRAS. A professora pede para que visitemos lugares ou eventos que possuem interpretes. Gostaria de saber quais dias e horários ocorre alguma missa com um interprete. Desde já, grata ^_^

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